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Demanda do mercado cervejeiro e valor agregado do lúpulo atraem produtores no DF

Com o crescente consumo de cervejas artesanais e diferenciadas na capital, produtores estão apostando no cultivo do lúpulo, um dos principais ingredientes da bebida. Em formato de cone, a flor verde é responsável por garantir aroma, textura e sabor à bebida. Em Brasília, capital do país, o interesse pelo cultivo, que tem mercado certo, vem crescendo. 

 

Em cinco anos o número de cervejarias cresceu 264%, segundo dados do Anuário da Cerveja no Brasil, levantamento divulgado no início de 2020 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em 2015 eram 332 fábricas. Em 2019, esse número saltou para 1.209. Já um outro levantamento realizado pela Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo) aponta que, em 2019, o Brasil importou 3.600 mil toneladas do produto.

 

De olho no mercado, a Emater-DF tem auxiliado produtores com o cultivo de lúpulo na capital. No Lago Oeste, Breno Borges, 42 anos, arquivista de formação e profissão, é um dos exemplos de produtores que estão investindo na planta. Há dois anos ele se interessou pelo mercado e começou os experimentos em sua propriedade. “Foi por curiosidade. Tinha conhecidos que plantavam ou que conheciam quem plantava. É um mercado que está crescendo. É um insumo que não se encontra com tanta facilidade nas proximidades. Achei que seria uma boa oportunidade de plantar o lúpulo e conquistar o mercado cervejeiro”, conta.

 

Nas primeiras conversas com o produtor Pablo Tamayo, Breno conta ter se interessado ainda mais e, com isso, já comprado algumas mudas. No início, o cultivo era na varanda da propriedade, apenas como experimento. Mas, de acordo com ele, logo veio a vontade de ocupar mais espaços com a plantação. Foi então que decidiu entrar de vez no ramo e investiu nas estruturas de eucalipto e cabo de aço para aguentar o peso da planta, que, segundo ele, pesa entre 20 kg e 25 kg.

 

“Apesar do investimento alto e de todo o trabalho, eu estou feliz. Está indo no ritmo que eu imaginava. Está funcionando bem”, diz, orgulhoso. Breno já provou a cerveja feita com seu lúpulo e garante que gostou do resultado. “Já tem cervejeiros caseiros e pequenas cervejarias interessados no lúpulo que estou produzindo. Já passei para algumas pessoas da área que se comprometeram a fazer a cerveja justamente para testar e, posteriormente, me darem um retorno da qualidade.”

 

O lúpulo fresco, antes de ser secado e embalado à vácuo – Foto: Pablo Tamayo/Arquivo Pessoal

 

Na propriedade de Breno, a Emater-DF tem prestado assistência com orientações diversas sobre o cultivo. “Como não sou agrônomo e não sou da área, não tenho muita noção da parte de adubação, manejo do solo, o que colocar na terra, como fazer análise. Foi então que procurei ajuda da Emater”, conta.

 

No Distrito Federal, por ter um clima diferenciado, com estações chuvosa e seca bem definidas, é possível ter até três safras do lúpulo por ano. No entanto, para os iniciantes, vale destacar que apenas na terceira ou quarta safra é que o lúpulo atinge boa maturidade e chega na qualidade ideal de sabor e aroma para a bebida.

 

“Por ser uma cultura trabalhosa e com alto investimento, ao longo do processo ela dá um retorno muito grande. Então, a partir deste despertar, a Emater começou a atender de forma mais efetiva e até estimular os produtores no cultivo de lúpulo, que tem muito valor agregado”, afirma o extensionista Daniel Oliveira, gerente do Escritório de Agricultura Orgânica e Agroecologia da Emater-DF. Auxílio com técnicas de irrigação e adubação, identificação de pragas na plantação, análise de solo, questões de pós-colheita e aquisição de crédito rural são alguns dos auxílios prestados pela empresa aos produtores. 

 

“Minha expectativa é começar a comercializar meu lúpulo no próximo ano, a partir do momento que eu conseguir uma qualidade boa para venda”, diz Breno, que está na fase de experimentos do lúpulo. Em flor, para consumo in natura, o ingrediente precisa ser utilizado poucos dias após a colheita. No formato de flor seca e embalada a vácuo, o tempo de uso sobe para dois anos. Já quando transforma a flor em pelet, deixando-a em formato igual ao dos lúpulos importados, em formato de pastilha, o prazo de validade é aumentando para até três anos. 

 

Em 200 metros quadrados, Pablo Tamayo cultiva 60 plantas – Crédito: Pablo Tamayo/Arquivo Pessoal

 

Referência entre produtores do DF

Considerado uma das referências em conhecimento no cultivo do lúpulo, Pablo Tamayo começou a investir e estudar o lúpulo em 2017. Hoje, sua produção ainda não é em grande escala, mas ele consegue ter até três safras no ano e vender seu produto fresco e também embalado à vácuo e refrigerado. De acordo com ele, mesmo o lúpulo desidratado e embalado à vácuo, com validade de até seis meses, tem alto valor agregado por ser considerado fresco.

 

Em 200 metros quadrados, em sua propriedade no Lago Norte, Tamayo consegue cultivar cerca de 60 plantas, o que lhe rende entre 30 kg a 45 kg por colheita e entre 100 kg e 150 kg por ano. Como a planta cresce para cima, é possível colocar entre 2,5 mil a 3 mil plantas em 1 hectare. O que, segundo ele, dá para ter um produto final, já seco, entre mil e dois mil quilos.

 

“É um negócio bastante atrativo do ponto de vista financeiro. […] Ele é um produto que tem um potencial muito bom de preço de venda. Tem lúpulos bons, brasileiros, sendo vendidos entre R$ 150 e R$ 300 o quilo. O custo de algumas produções varia entre R$ 40 e R$50 reais o quilo”, explica o produtor Pablo Tamayo.

 

Planta tem flor em formato de cone e é responsável pela textura e sabor da cerveja – Crédito: Pablo Tamayo/Arquivo Pessoal

 

Hoje, ele consegue vender seu lúpulo para fábricas de kombucha em Brasília e em Florianópolis, além de algumas cervejarias artesanais da capital. Por vender lúpulo orgânico, ele garante ter um bom retorno das vendas. “A expectativa é expandir para um cultivo profissional e comercial maior”, diz.

 

Pablo trabalhava com infraestrutura de tecnologia de redes quando começou a se interessar por agricultura e cultivo orgânico. Com o conhecimento repassado por alguns amigos sobre o cultivo orgânico de hortaliças, seu interesse era cultivar algo diferente. Na época, ouviu falar do lúpulo, sobre ser uma planta importada, sem cultivo no Brasil e que dava sabor e características especiais para a cerveja. Motivos suficientes para se apaixonar, aprender tudo sobre o cultivo e começar o investimento no quintal de casa.

 

Produtor Breno Tamayo (direita) e o extensionista da Emater-DF Daniel Oliveira fazem a colheita do lúpulo

 

Colheita

No processo de colheita, a parte aérea da planta é arrancada no tronco. Da parte arrancada são aproveitados os cones. A rebrota ocorre a partir da raiz (rizoma) que permanece em campo, sendo vigorosa, crescendo até 30 cm por dia. A nova colheita somente ocorre após quatro meses, quando as hastes já estão grandes novamente e com flores. Com a colheita feita toda manual, Breno conta ter bastante trabalho. “Tem que arrancar planta e arrancar cone por cone. Isso demanda muito tempo. Quem tem o maquinário agiliza todo esse processo. Mas adquirir o maquinário tem um custo muito alto”, relata.

 

De acordo com o extensionista Daniel, a perspectiva da Emater e do grupo de produtores que cultivam lúpulo é adquirir o maquinário por meio do Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR).  Com isso, todo o trabalho hoje manual, de colheita e separação do cone, será realizado pelo maquinário, eliminando grandes gargalos para pequenas produções.

 

Após a colheita dos cones, Breno diz que o passo seguinte é levar para a secagem, para depois embalar à vácuo. No caso do uso sem secar, ele diz que a cervejaria precisa ser próxima para utilização do produto em até 48 horas. O consumo do lúpulo fresco, segundo Breno, dá mais frescor e sabor à cerveja. No entanto, a quantidade usada acaba sendo quase quatro vezes maior do que o lúpulo seco.

Fonte: Emater-DF

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